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Rap de Resistência: A Voz dos Jovens nos Protestos de Moçambique


Em Moçambique, o rap emergiu como o grito de resistência dos jovens que lideram os protestos sociais. Entre eles, destaca-se Higino Fumo, de 32 anos, conhecido como "Nikotina KF", um dos principais porta-vozes das manifestações.

Luta e Arte nas Ruas

Com o punho erguido diante de um mural dedicado ao falecido rapper Mano Azagaia, crítico do governo moçambicano, Nikotina expressa sua indignação através da arte e do ativismo. Desde outubro, ele enfrenta nas ruas a repressão policial, incluindo gás lacrimogéneo e balas de borracha.

Isso vai além da política, é uma questão social”, afirma. Vestindo uma camiseta estampada com Dennis Rodman, ele denuncia nas suas músicas e ações a desigualdade e a injustiça que assolam o país.

Voz da Juventude Desiludida

Para muitos jovens moçambicanos, Nikotina tornou-se símbolo de resistência. “As pessoas perceberam que poucos têm muito, enquanto a maioria não tem nada. Isso cria divisões", diz o rapper, referindo-se ao contexto socioeconômico do país.

Apesar de Moçambique ser rico em recursos minerais e gás natural, quase 75% da população vive na pobreza, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento. O cabeleireiro Zilton Macas, de 29 anos, reflete essa realidade: "Nos últimos anos, Moçambique virou um campo de batalha onde poucos conseguem sobreviver.”

Compromisso com a Liberdade

Mesmo sob constantes ameaças, incluindo de morte, Nikotina mantém sua postura firme. "As ameaças são contra mim e minha família, mas não vou me calar", declara. Ele defende a liberdade de expressão e o direito à manifestação, garantidos pela Constituição, temas presentes na sua música Artigo 51 - Uma Aula de Direito.

Após a morte de Mano Azagaia, seu maior ídolo, Nikotina intensificou seu engajamento político e social. A música Povo no Poder, lançada em 2008, tornou-se o lema dos protestos atuais.

Sonho de um Futuro Melhor

Para muitos moçambicanos, como Juvencia Bila, formada em gestão ambiental, o sonho de uma vida melhor continua distante. Hoje, ela trabalha como atendente em uma lanchonete, mas não perde a esperança. "Nossos pais sempre nos incentivaram a estudar para termos um futuro melhor... mas não deu certo”, lamenta.

Mesmo diante das adversidades, a luta dos jovens moçambicanos segue inspirada pelo poder transformador da música e pela determinação de artistas como Nikotina, que fazem do rap uma arma de resistência e esperança.


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